Patrimônio Privado e Skatista

                Olá galera que nos acompanha. O blog não tem sofrido atualizações, conforme justifiquei no post “Vamos Chorar Neném?” em quatro partes. Mesmo assim continuo observando como anda as visitações e o blog, mesmo sem atualizar, continua recebendo visitas dos leitores. Isso é muito positivo, visto que o conteúdo do blog, mesmo que a postagem seja antiga, continua tendo seu merecido valor. Venho hoje redigir esse post, pois há alguns dias tenho visitado alguns dos picos cadastrados nesse blog e percebi algo que não dei muita importância quando criei o DaRuaSquad.com.

                Sempre foi motivo de discussão e confusão a questão do skate Street e patrimônios urbanos. Como tratamos exclusivamente do estado de Goiás, onde a cena do skate tem se fortalecido, mas não chega a ser um centro cultural do esporte, a discussão não é levada a pino. Se por um lado estamos ganhando mais espaço, por outro estamos começando a incomodar demais.
                Comecemos pela disposição das pistas e a situação de cada uma delas. As pistas goianas disponíveis são a do Perim, Praça da Paz, Itatiaia, Senador Canedo (essas as mais famosas). O grande problema é a localização e o localismo de cada, todas elas estão nos extremos da cidade. Para um skatista que mora na região sul de Goiânia, próximo a Aparecida, caso da galera do DaRua, é extremamente desgastante e muito caro se deslocar até o outro lado da cidade para andar de skate. Para uma evolução considerável, é necessário andar de preferência todo dia, mas atravessar a cidade para encontrar um local propicio à pratica do skate é muito complicado. Muitos skatistas trabalham nos horários úteis, chegam em casa cansados ou desgastados, querem andar de skate, mas tem uma distancia enorme que o separa de uma pista. A opção mais cômoda é deixar o role para o final de semana. Sem andar o skatista perde muito tempo e a evolução anda a passos lentíssimos. Para quem sonha com profissionalismo no skate se vê tendo de jogar o sonho pela janela. Outro problema é o localismo. Algumas pistas são tranqüilas e muito democráticas, outras nem tanto. Já vivi experiências de praticamente ser expulso de pistas para não apanhar dos skatistas, ou não ser roubado pelas gangs locais. Tudo isso somado ao fato da distancia, implica na procura de outros locais para andar de skate. A rua é a opção. Mas ao adentrar à rua, outro problema é criado: A presença do skatista em meio ao público.
                O blog do DaRua Squad foi criado justamente com essa finalidade, mostrar picos de rua. Isso foi bom? Sim, muitos skatistas gostam do nosso trabalho, acompanha e ajuda na pesquisa e disponibilização do conteúdo. Mas isso também acabou implicando negativamente. O blog virou uma espada de dois gumes: por um lado o skatista encontra opções para andar, por outro lado os proprietários dos locais skatáveis se informam por onde os skatistas andarão e tomam atitudes que impeçam as sessões. Isso não ajuda em nada o skatista. Veja o caso de um pico próximo ao QG do DaRua Squad, o barranco da baixada da Av. São Paulo. O pico conta com um gap muito bom para andar, no post há todas as informações. Os skatistas começaram a freqüentar o local e como resposta o dono das galerias próximas colocou um monte de pedras na entrada do pico. Inicialmente acreditei que aquilo era para colocar no lugar da grama, mas já tem meses e as pedras continuam lá, obviamente para impedir o skatista a andar.
                Como toda moeda tem duas faces, a questão do patrimônio privado e skatista também têm dois pontos de vista que divergem. Por um lado temos o skatista que quer andar, evoluir, profissionalizar, aprender e aparecer. Para isso local propícios a pratica do skate tem de ser freqüentados. Por outro lado temos os seguranças e proprietários dos locais skatáveis impedindo a sessão para não ter seu patrimônio depredado. O excesso de pancadas em bordas de mármore acaba lascando, as rodinhas marcam o chão encerado e a vela deixa a impressão de sujeira na borda. Isso da impressão de abandono, sujeira e não é bem visto pelos demais. Num comercio isso acaba sendo um aspecto negativo visualmente. Skatista por natureza é transgressor e muitas vezes não vê que andar em certos locais, principalmente quando freqüentado por muitas pessoas gera muitos incômodos e imprevistos. Isso não é exclusividade nossa, acontece no mundo todo. Quando o skatista anda sem autorização em locais privados a briga com a segurança local acontece e o problema acaba sendo desvantajoso para o skatista.
                Como skatista digo que somos muito incompreendidos também. Muitos são profissionais ou amadores que pagam suas contas através do que ganham com skate. Somos trabalhadores como quaisquer outros, empregamos fotógrafos, redatores, engenheiros e outras profissões que beneficia o skate de alguma forma. Quando somos impedidos de andar, somos impedidos fazer nosso trabalho, e os proprietários e seguranças não vêem esse lado da moeda. Essa falta de comunicação e compreensão mútua gera todo esse problema que não é nunca discutido formalmente.
                Esse texto escrito nesse blog é uma forma de chamar à compreensão nos skatistas e nos proprietários de patrimônios privados que aparecem aqui. De forma alguma incitamos o vandalismo ou a depredação dos patrimônios, mas não deixamos de ser skatistas ao ponto de pedir aos demais que parem de freqüentar esses locais. Como skatista peço bom senso aos meus companheiros de estilo de vida, faça sua parte tentando incomodar o mínimo possível, sem nunca deixar de andar, conversando sempre e aclamando o bom senso. Aos proprietários e segurança peço mais moderação e bom senso também. Se não é permitido que se ande, tentem disponibilizar um horário sem movimento que não atrapalhe seu comercio. Se o medo é o prejuízo no patrimônio, converse com os skatistas e os deixem cientes da cobrança caso haja prejuízos. Uma forma bem razoável de resolver alguns problemas é adotando a cobrança de taxa de sessão: um valor mínimo acessível, cobrado de cada skatista individualmente que será destinado à cobertura de qualquer dano causado às instalações existentes.
                Obviamente passará pela cabeça de alguns: por que então, o DaRua Squad não pede a liberação antes de andar ou cadastrar picos? Simples. Se formos aos locais antes e pedirmos permissão para fotografar e cadastrar o pico, os proprietários não permitirão de maneira alguma. Se o pico já estiver cadastrado nesse site, os proprietários serão chamados à flexibilidade ou então terão uma enorme dor de cabeça. O skatista que for andar no local, tendo bom senso e conversando pode resolver pacificamente o problema. Como não nos responsabilizamos por qualquer dando empregado a nenhum dos picos, não deixaremos de mostrar aos skatistas lugares propícios para andar. Cabe a cada uma das partes se entenderem. Abraços a todos!

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